terça-feira, 4 de outubro de 2011

Os Semeadores




Os Semeadores

Vós os que hoje colheis, por esses campos largos,
          O doce fruto e a flor,
Acaso esquecereis os ásperos e amargos
          Tempos do semeador?

Rude era o chão; agreste e longo aquele dia;
          Contudo, esses heróis
Souberam resistir na afanosa porfia
          Aos temporais e aos sóis.

Poucos; mas a vontade os poucos multiplica,
          E a fé, e as orações
Fizeram transformar a terra pobre em rica
          E os centos em milhões.

Nem somente o labor, mas o perigo, a fome,
          O frio, a descalcês,
O morrer cada dia uma morte sem nome,
          O morrê-la, talvez,

Entre bárbaras mãos, como se fora crime,
          Como se fora réu
Quem lhe ensinara aquela ação pura e sublime
          De as levantar ao céu!

Ó Paulos do sertão! Que dia e que batalha!
          Venceste-a; e podeis
Entre as dobras dormir da secular mortalha;
          Vivereis, vivereis!

Machado de Assis, in 'Americanas'

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